terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Duchamp e Heidegger: quando a coisa se tornou obra de arte

Massimo Carboni, entrevistado no Festival da Filosofia de Modena de 2017 ("As formas do criar"), fala da estética contemporânea. Refere-se a Benedetto Croce como sendo um dos grandes mestres da Estética do Séc. XX, mas de quem não se extraem, imediatamente, grandes instrumentos de análise para a arte de hoje. Já Walter Benjamin, com A Obra de Arte na Época da sua Reprodutibilidade Técnica (1934-36), se devidamente contextualizado -  considera Carboni - é um instrumento fundamental para compreender a arte medial e até mesmo as instalações interativas, em suma, as obras de arte atuais. Relativamente a Martin Heidegger, a opinião de Carboni, é a de que não foi um construtor de uma estética filosófica cujo discurso se amplie; aliás, no seu estudo A origem da Obra de Arte (também de 1934-36), Heidegger distingue entre a coisa e  a obra, entre a coisidade da coisa e obra de arte. Ora, mais de vinte anos antes (em 1913) Marcel Duchamp, pelo contrário, tinha feito de uma coisa uma obra de arte, demonstrando, naquele aspeto específico, que a estética heideggeriana estava já naquele momento superada e que não é mais possível fazer a distinção entre coisa e obra.

Massimo Carboni ensina Estética na Università della Tuscia di Viterbo e na Accademia di Belle Arti di Firenze. Historiador, crítico de arte e teorizador da estética, tem-se ocupado de questões filosóficas que intercetam a pluralidade das expressões artísticas, o estatuto das técnicas e a raiz antropológica das expressões.

Da sua bibliografia:

- L’occhio e la pagina. Tra immagine e parola (Milano 2002);

- Lo stato dell’arte. L’esperienza estetica nell’èra della tecnica (con P. Montani, Roma-Bari 2005);

- La mosca di Dreyer. L’opera della contingenza nelle arti (Milano 2007);

- Di più di tutto. Figure dell’eccesso (Roma 2009);

- Le arti e la tecnica: gli scenari futuri, in Terzo Millennio (Enciclopedia Italiana Treccani, 2010).

in RAI-CULTURA (texto adaptado) 

Ver extrato da entrevista

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

O papel da cultura na evangelização

A Mensagem do Evangelho de Jesus Cristo dirige-se universalmente ao ser humano de todos os tempos e latitudes. Porém, a sua perceção, compreensão, interpretação e interiorização por cada pessoa, em particular, ocorre no seio dos distintos contextos de vida, dentre os quais o contexto cultural. Daí que a Igreja venha colocando cada vez mais em evidência a necessidade desta articulação, não só como dinâmica de evangelização da cultura como de inculturação do Evangelho. É toda uma problemática riquíssima, que se traduz no aprofundamento das relações entre a Fé e a Cultura, a Igreja e a Sociedade. 
Nesta linha permitimo-nos discordar do conceito de cultura como um "obstáculo", que transparece no vídeo. Ela deve ser valorizada como contexto fundamental de vida, ou, na linguagem de A. López Quintás, um "âmbito de realidade".


Texto do vídeo aqui

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Pedagogia estética da hospitalidade

 Pode a Experiência Estética conduzir-nos à Hospitalidade?

"Elementos para uma pedagogia estética da hospitalidade" - assim poderia ser o título deste esboço de reflexão, passe a imodéstia da paráfrase.

A quem interessar, cf. intervenção no VII Simpósio Luso-Brasileiro de Estudos de Religião, em 27 jan. 2021 [vídeo a partir de 29:15 + discussão no final]


segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Vídeo de Natal da DST

 Vale a pena fixar a atenção neste vídeo de Natal.

Para além do rigor e da perfeição da sua execução técnica, a seleção das imagens sincronizam uma poderosa mensagem: de como os grandes valores transformam a atividade humana, o trabalho mais simples ou mais complexo, a superfície do quotidiano, a rugosidade da matéria, o olhar, o desejo, o símbolo, o horizonte do limite noutra coisa sem a qual, quase tudo faltaria. Claro, os valores dão-nos asas se... verdadeiramente cultivados na vida e no coração de cada um. Acho que é aí que está o segredo desta Empresa. De outro modo, este vídeo de natal não significaria Natal «do Belo, do Bem e da Verdade»!
Gosto mesmo!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

A partilha da “Palabre” na Filosofia Africana

No presente semestre, a viagem intelectual proposta aos meus alunos teve como destino África. Precisamente, a Filosofia Africana, na sua problemática caracterização geral e nas suas expressões mais específicas, nos domínios da ética, da arte, da linguagem, da religião, da política... 

Dos muitos conceitos e perspetivas merecedoras de refletida atenção, os filósofos africanos
propõem-nos, no campo social e político, a recuperação de um conceito - que é também uma "praxis" - que tem gerado na turma muito interesse e debate. Trata-se da experiência comunitária da partilha da Palabre/Palavra, a que eles atribuem uma importância notável.

Este termo, e mais especificamente a expressão “l’Arbre à Palabres” (Árvore das palavras), designa o lugar tradicional de reunião, à sombra da qual a comunidade se exprime e ouve a palavra dos mais velhos, discutindo e tomando posição sobre os múltiplos aspetos da vida em sociedade, sobre os problemas da aldeia, sobre a política, uma discussão alargada e em palavras simples. É também o lugar onde as crianças vêm ouvir contar histórias pelo ancião da comunidade. Por extensão, a expressão pode indicar, também, o sítio da aldeia onde se encontrava a tal “árvore das palavras”, geralmente uma árvore de baobá. Noutras latitudes, pode ainda referir o local onde os estudantes se reúnem para discutir a sua vida social e universitária. Do ponto de vista político, "jurídico" e também ético, esta tradição incorpora um significado de fonte da legitimação "democrática" da decisão da comunidade, a raiz ancestral de uma prática de consenso; socialmente simboliza, também, a força humana do grupo de pertença e naturalmente a importância das relações sociais.

Como se percebe, ao exercício desta permuta de palavras é reconhecida uma função comunicativa e fundadora. Muitos filósofos africanos revalorizam esta experiência, por ser fortemente identitária e potenciar o pluralismo típico das sociedades tradicionais, onde o consentimento público é negociado segundo práticas codificadas pela oralidade.

Para além de muitos outros aspetos que tornam este conceito de grande interesse para pensar a sociedade, parece-me possuir grande potencial para tempos de crise, como o que estamos vivendo.

O romance A Árvore das Palavras (1997), da escritora portuguesa Teolinda Gersão dá-nos uma certa imagem e evocação dessa realidade, vivenciada em Moçambique, pouco antes da independência.

Os movimentos “Ondjango” em Angola e “Djemberém” na Guiné Bissau são atuais continuadores das tradições da “Árvore das Palavras”; nesta linha, ver os materiais:

- Podcast “Ondjango, Arminda Fernando Filipe”

- Filme Djemberém ou la hutte du dialogue, Filme de Cinzia d'Auria (2013 - Guinée-Bissau). Realizado pelo grupo Fifito & Bumbulum, um grupo composto por artistas da Guiné-Bissau, dentre eles Filomeno Lopes e pela associação Zoe Onlus. Obra de homenagem às tradições da África Ocidental, onde o «Djemberém» refere a cabana do diálogo, lugar onde, segundo os usos e costumes, os anciãos se reúnem para discutirem e procurar soluções às diversas controvérsias sociais.

Bibliografia complementar

 Fweley Diangitukwa. “La lointaine origine de la gouvernance en Afrique: l’arbre àpalabres” in Revue gouvernance, été 2014.

Ghiggi, Gomercindo; Kavaya, Martinho. “Freire y Ondjango: diálogos con la experienciavital del mundo angoleño”. Recerca: revista de pensament i anàlisi, [en línea], 2009, n.º 9, pp. 103-121.

Sopova, Jasmina. “Arbres à palabreset systèmes occidentaux” in: Le Courrier de l'UNESCO, 52, 5, p. 42.

domingo, 22 de novembro de 2020

Arte Contemporânea e Estética do Essencial

Intervenção na 5ª Sessão da Xª Jornada de Teologia Prática, dedicada ao tema: "O Apelo do Essencial", com a comunicação "Arte Contemporânea  e Estética do Essencial".
Esta Sessão, lançada online no passado dia 05 de novembro, contou, também, com a participação do Colega Joaquim Félix de Carvalho, Professor da Faculdade de Teologia; foi moderada pela Professora Clarisse Pessôa (FFCS-UCP) e teve como anfitrião o Professor Luís Figueiredo Rodrigues (Diretor da FT-Braga).
A organização da Jornada foi da responsabilidade da Faculdade de Teologia da UCP.



quinta-feira, 2 de abril de 2020

Pensamento oriental


A revista Religare - periódico semestral do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba - publica regularmente trabalhos de investigação sobre as grandes correntes do "Pensamento oriental", expressão da nossa preferência por nela integrar os diversos componentes das ancestrais sabedorias: elementos filosóficos, religiosos, culturais, espirituais. 
São trabalhos de interesse para o conhecimento, entre outras, das correntes do Hinduísmo, Budismo, Jainismo, Confucionismo, Taoismo.
Destacamos aqui dois fascículos, com a indicação completa dos respetivos índices, estando os seus artigos todos eles disponíveis em livre acesso. 
Aos interessados nestes assuntos, recomendamos a pesquisa em todos os outros fascículos da mesma revista, já que se encontram muitos outros contributos ao longo dos 32 fascículos que a revista contabiliza até à presente data.


VOLUME 12, n. 2 (2015): dossiê “Religiões, Filosofia e Espiritualidades Chinesas”

> Editorial - Matheus da Cruz e Zica: 226-229
> A arte, a magia e os deuses: trilhar as tradições de Macau - Mônica Simas: 230-243
> Rota da seda: trânsitos culturais e sagrados nos caminhos da China - Maria Lucia Abaurre Gnerre: 244-259
> Do karatê ao kung fu: cinema, religião, elementos marciais e religiosos japoneses e chineses e sua recepção no Brasil (1984-2010) - José Otávio Aguiar: 260-277
> Um TAO Descartes - Matheus da Cruz e Zica: 278-294
> O pensamento chinês: filosofia ou religião? - Joaquim Antônio Bernardes Carneiro Monteiro: 295-314
> TRADUÇÃO: A Sociedade Taoísta do Brasil e a globalização do Daoismo da Ortodoxia Unitária - Daniel M. Murray, James Miller: 315-343 (Tradução de Matheus Costa e Fábio Stern)
> ARTIGO LIVRE: Concepções e ritos de morte na Jurema paraíbana - Dilaine Soares Sampaio: 344-369
> RESENHA - GNERRE, Maria Lúcia Abaurre; POSSEBON, Fabrício (orgs.). China Antiga: aproximações religiosas, Matheus Oliva da Costa: 370-377

VOLUME 9, n. 2 (2012): dossiê "Religiões Orientais"

> Editorial - Maria Lucia Abaurre Gnerre, 113-117
> O PROBLEMA DO MAL E A TEODICÉIA OCIDENTAL. O QUE O TEÍSMO E NÃO-TEÍSMO INDIANOS TEM A DIZER SOBRE ESTE DESAFIO? - Puroshotama Bilimoria, 118-140
> DHARMAKAYA & NIRVANAKAYA: CORPOS DE ÊXTASE NA POESIA DE AUGUSTO DOS ANJOS - Sandra S F Erikson, 141-152
> CECÍLIA MEIRELES E A ÍNDIA: DAS PROVISÓRIAS ARQUITETURAS AO “ÊXTASE LONGO DE ILUSÃO NENHUMA” - Gisele Oliveira, 153-161
> TRADUÇÕES DA LITERATURA FICCIONAL INDIANA PARA O PORTUGUÊS: UMA QUESTÃO CULTURAL - Gisele Lemos, 162-166
> RELIGIÃO, EDUCAÇÃO E MARCIALIDADE NA FORMAÇÃO HISTÓRICA DO KUNG FU: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE UM CAMPO DE PESQUISAS RECENTE NO BRASIL - Matheus da Cruz Zica, 167-176
> YOGA PARA CRIANÇAS – UMA PRÁTICA EM CONSTRUÇÃO -Maria Claurenia de Andrade Silveira, 177-185
> O CONCEITO DE FELICIDADE NA BHAGAVAD-GITA: SIMILARIDADES E CONTRASTES COM O PARADIGMA HEGEMÔNICO NO OCIDENTE - Thiago Pelucio Moreira, 186-194
> MORTE NO HINDUÍSMO: TRANSMIGRAÇÃO E LIBERTAÇÃO - Lucio Valera, 195-204
> POSTULADOS DO VEDANTA: CONTRIBUIÇÕES DE VIVEKANANDA PARA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL A PARTIR DO REPOSICIONAMENTO DO SUJEITO DIANTE DE SUA EXISTÊNCIA, SIGNIFICADO E VALORES - Livia Borges Lopes, 205-218
> A REPRESENTAÇÃO DA MULHER E DA NATUREZA NO BUDISMO MEDIEVAL - Zelia Bora, 219-228
> CRÍTICA BUDISTA DE NIETZSCHE - Derley Menezes Alves, 229-243
> A NATUREZA DA VACUIDADE A LEITURA DO PRAJNĀ PĀRAMITĀ A PARTIR DE O ORNAMENTO DA CLARA REALIZAÇÃO DO BUDA - Deyve Redyson, 244-251