domingo, 18 de junho de 2017

"Psicologia do Trabalho: O coração e os olhos da organização": impressões de leitura

A convite da Profª Doutora Fátima Lobo, Coordenadora do Mestrado em Psicologia do Trabalho e das Organizações (FFCS-UCP Braga), tive a honra de colaborar, no dia 09 de junho, na sessão de apresentação da síntese das atividades académicas realizadas por aquele 2º Ciclo no decurso do presente ano letivo (mais informação, cf. site: http://cippto.com/)
Coube-me a grata tarefa de comentar o trabalho publicado sob a responsabilidade daquela Professora, cujo conteúdo resultou da aplicação de um questionário aos alunos finalistas do referido Mestrado. Nesta obra, intitulada Psicologia do Trabalho: O coração e os olhos da organização, os alunos inquiridos responderam às questões colocadas, projetando o seu futuro como psicólogos intervenientes no mundo das organizações e do trabalho, alimentados pelos seus sonhos mais genuínos, e valorizando a excelência da formação recebida, perante os desafios complexos e exigentes que se colocam à sua ação.
Aqui fica o texto-guião do comentário então apresentado.

IMPRESSÕES DE LEITURA DA OBRA
Fátima Logo (Organização). Psicologia do Trabalho: O coração e os olhos da organização, Braga: Colegium: Investigação e Promoção da Psicologia do Trabalho e das Organizações, Abril, 2017

1. Felicitar o grupo dos mestrandos e sua coordenadora pela iniciativa em curso na área da Psicologia do Trabalho e das Organizações.

2. Saúdo a decisão de ousarem publicar os vossos testemunhos, pontos de vista, expectativas; uma decisão que muito vos dignifica e que introduz uma diferenciação importante na vossa área de formação.
Aproveito a circunstância para sugerir que outros cursos e turmas prossigam este exemplo de promover a publicação de trabalhos de alunos que tenham qualidade científica e literária. Que os docentes incentivem estas boas práticas. Que se recuperem as Revistas dos Alunos da Faculdade, publicadas sob a iniciativa dos Alunos e sempre com a colaboração da supervisão dos docentes, como foi prática durante tantos e bons anos. Que os órgãos de decisão da Faculdade apoiem e estimulem estas práticas – aqui fica este pedido.

3. Quero, sobretudo, valorizar a já referida dimensão testemunhal desta publicação, na qual podemos captar claramente os dispositivos anímicos, intencionais e prospetivos com que os mestrandos do Curso de Psicologia do Trabalho e das Organizações do biénio 2015-2017 se posicionam.

4. Tendo já realizado quase todo o académico letivo, teórico e prático da sua formação pós-graduada, e estando já no horizonte a inserção no mundo laboral e uma nova fase das suas vidas, é muito significativo que estes mestrandos/as se deixem mobilizar, de acordo com os seus testemunhos, pelos seus sonhos. De tudo o que li do vosso livro, o que mais me tocou, foi precisamente essa opção explícita e partilhada por todos. É mesmo admirável. Sim, porque em vez dos sonhos, os vossos moventes poderiam ser o dinheiro, o poder, o status, um bruto automóvel, ou outro benefício qualquer social e economicamente bastante mais apreciado. É caso para dizer: «Diz-me que sonhas, dir-te-ei da tua grandeza». E só com grandeza e profundidade se faz um Psicólogo, pelo menos um Psicólogo Organizacional e do Trabalho.

5. Fernando Pessoa, não por acaso tão reiteradamente presente no vosso livro, pôs no sonho o pedaço de nada que abre o mundo. Vale a pena recordá-lo:
«Não sou nada.
Nunca serei nada. 
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.»
(Álvaro de Campos, Tabacaria).

6. Mas, vejamos então, num breve conspecto e cingindo-me às vossas próprias palavras, o que sonhais, os vossos sonhos, e como eles se vivificam, também, no contacto com a vossa experiência académica, a vossa formação, o vosso curso, o vosso mestrado.
A Ágata vive com o sonho de «sonhar, sonhar sempre». Para ela, sonhar é sinónimo de «viver», algo que a revitaliza continuamente, mesmo perante as dificuldades e as incertezas.
Para a Eva, o sonho entronca no desejo de felicidade, não solitariamente, mas como algo que se consegue sempre em relação, com os outros…
Já para a Filipa, o sonho maior é feito de doação, de dádiva de si mesma, de modo a tornar os outros felizes. Por isso, integra no seu ser valores de humildade, de autenticidade, de autoconhecimento. Retoma a imagem do sol para exemplificar a doação que gera felicidade. A generosa luz do sol é como outra generosa presença solidária e amiga da mão estendida ou do braço que abraça.
Para o Joel e para a Sara, sonhar rima com «viajar». Não propriamente para lúdicas distrações, mas para saciar esse desejo de conhecimento, e de enriquecimento pessoal e profissionalmente. Procurar o diferente, medir-se a si mesmo pela resposta aos desafios do outro, seja este um lugar, uma pessoa, uma cidade, um país…
A Sofia traz consigo o sonho, ou a aspiração de encontrar a sua oportunidade de se poder realizar humana e profissionalmente na área de atividades para a qual se está a formar e a preparar. É certamente uma aspiração legítima, cuja concretização auguramos possa acontecer o mais rapidamente possível, bem como para todos os colegas.

7. Como facilmente se infere, de sonhos e expectativas está o texto profusamente cerzido. Sendo que, destas últimas – das expetativas – os seus autores manifestam um consciente conhecimento de como alcançá-las, das respetivas etapas, dos meios a utilizar, das oportunidades a explorar. A atestar esse conhecimento de causa, estão bem presentes no texto prolixas referências bibliográficas, qual lacre bem sólido da excelente preparação académica e científica de que são credores.

8. Um outro traço distintivo dos testemunhos vertidos nesta publicação, diz respeito à fina perceção da dimensão afetiva, sentimental e emocional de que frequentemente carece a abordagem do mundo do trabalho, do mundo das organizações e das instituições, sendo por aí que estes alunos fazem intenção de entrar o mais possível. Dado que é, precisamente, nesse registo da verdade do coração que eles identificam a essência fundamental do humano e do social naquilo em que o social reitera o humano. Também por esta declarada opção, a Faculdade se deve sentir regozijada, e honrada por tais alunos e por tal projeto, que assim os foi conduzindo.

9. Depreende-se deste opúsculo que todos estes jovens mestrandos revelam um inequívoco domínio das condições difíceis que no presente afetam o mundo laboral, no seu todo. Bem como do grau de incerteza que paira na atmosfera empresarial, pública e privada, e que vai toldando o semblante, mesmo dos mais otimistas. Possuem também uma consciência cristalina da enorme luta que terão que encetar pelo reconhecimento profissional do papel insubstituível do psicólogo organizacional nas empresas, nas instituições, nas organizações… Mas como contraponto, posso garantir que, pelo que li, nenhuma destas reticências os demove da sua convicção mais profunda: de que vale a pena esta formação académica porque sentem que está cheia de futuro. Um futuro que lhes alicerça a esperança. Por isso a vivem com tanta paixão, que no livro se manifesta, a transbordar.

Carlos Morais / FFCS – Católica Braga / 09 de junho 2017

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